A crise global levou o dólar para mares nunca dantes navegados. Quer dizer, há muito que o dólar não ia para aqueles lados. Quem quiser viajar nesse verão terá que fazer como eu: partir para descobrir a costa brasileira. Não é uma expedição fácil – uma aventura como essa exige muita preparação, principalmente do espírito.
Primeiro, prepare o bolso. Não é oferecendo dois espelhinhos que você vai conquistar o comerciante local. Aliás, se ele aceitar a proposta, fique atento. Você pode estar negociando com um viciado ou traficante de drogas. E também abra o olho para ofertas exageradas. Atualmente, o papagaio oferecido é de ordem metafórica.
Depois de devidamente instalado na pousada, chegou a hora de curtir a praia. Dica importante: aceite a música animada em alto volume assim como você aceita o barulho da chuva e do vento nos coqueiros. Não que você vá escutá-lo. Encare como uma força da natureza, e não da civilização. Se não conseguir ler seu livro, tente uma dessas danças coletivas organizadas pelos monitores de plantão. Elas são muito educativas, principalmente se você estiver com os seus filhos. Eles ouvirão coisas do tipo: “A cobra não tem pé, a cobra não tem mão, então como ela sobe no pezinho do limão?”. O que antecipará uma conversa esclarecedora que você só teria quando eles chegassem aos 8 anos.
Enjoou da areia? Passeio de escuna é também um bom programa de índio. A densidade populacional fará você curar sua síndrome de abstinência dos centros urbanos. Portanto, atente-se às regras da etiqueta para evitar choque de culturas. Quando alguém gritar “uhuuu”, não se assuste. O nativo do pacote turístico quer manifestar com seu grito que ele deveria estar gostando do passeio mais do que realmente está, mas não quer que ninguém saiba disso, e por isso mesmo grita. Ou ele já tomou todas e soltaria um “uhuuu” até para a Carla Perez antes da oitava cirurgia. Nesse caso, o nativo se torna perigoso, principalmente se você estiver acompanhado, seja lá como for sua parceira. Abrace sua mulher com força e grite “uhuuu” também olhando para ele. Para promover a comunhão, estenda a mão para o urrante e fale na língua local: “Give me five”. Isso afasta o perigo. Agüente mais um pouco, decore mais alguns refrões do tipo “A galera tá no clima, mão em baixo, mão em cima”, que logo, logo você verá terra à vista. Se nada disso funcionar, organize uma primeira missa e reze.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
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